domingo, 25 de novembro de 2007

Dependências

Dependência é o impulso que leva a pessoa a usar uma droga de forma contínua (sempre) ou periódica (frequentemente) para obter prazer. Alguns indivíduos podem também fazer uso constante de uma droga para aliviar tensões, ansiedades, medos, sensações físicas desagradáveis, etc. O dependente caracteriza-se por não conseguir controlar o consumo de drogas, agindo de forma impulsiva e repetitiva. A dependência é um fenómeno que, de forma dramática, tem marcado os últimos cinquenta anos. Ela decorre dos efeitos que uma substância provoca no organismo, o que vai provocar uma vontade irresistível de voltar a consumir. As dependências física e psicológica andam habitualmente associadas. Iremos ver isso mais à frente. Uma vez instalado o hábito de consumir determinada substância, torna-se difícil abandoná-lo definitivamente.
Este é um problema que não acontece só aos outros. A prevenção é a grande aposta para evitar que te confrontes com este problema. A primeira e melhor forma de prevenir é conversar com as pessoas que te rodeiam. Os pais são muitas vezes os primeiros agentes de prevenção do consumo de drogas. São os pais que, melhor do que ninguém, conhecem os seus filhos e os podem ajudar. Além disso, maioritariamente, os pais são os primeiros modelos (os exemplos) a seguir pelos mais novos. São várias as causas que podem levar à dependência. Estudos recentes apontam os factores fundamentais como: a curiosidade e o gosto pelo risco, próprios da fase da adolescência e juventude. Outras vezes é a influência dos amigos que vêem no consumo de drogas uma forma de se afirmar e de ser adulto.
A prevenção não termina na adolescência.
A prevenção faz-se todos os dias.

Dependência física

Quando uma substância é utilizada em quantidades e frequências elevadas, o organismo defende-se estabelecendo um novo equilíbrio no seu funcionamento, adaptando-se à substância de tal forma que, na sua falta, funciona mal. A partit daí, a substância passa a ser necessária para que o organismo funcione normalmente.

Dependência psíquica

É a dependência fundamental. A dependência psíquica instala-se quando uma pessoa é dominada por um impulso forte, quase incontrolável, de consumir a substância à qual se habituou, experimentando, então, um mal-estar intenso na ausência da mesma. É a condição na qual uma droga produz um sentimento de satisfação e um impulso psicológico, exigindo uso periódico ou contínuo da droga para produzir prazer ou evitar desconforto. É o apego ao estado onde as dificuldades do usuário são momentaneamente apagadas pelos efeitos da substância que acaba por preencher a necessidade de "soluções" imediatas.
Os psicotrópicos são um conceito que se relaciona perfeitamente com a dependência psíquica. Eles causam uma mudança no psiquismo, da qual as pessoas podem passar a depender. Psicotrópicos são aqueles que agem no Sistema Nervoso Central (SNC) produzindo alterações de comportamento, humor e cognição. Há quem classifique os vários psicotrópicos em:
· Depressores da Actividade do Sistema Nervoso Central (álcool, inalantes, ansiolíticos);
· Estimulantes da Actividade do Sistema Nervoso Central (cafeína, nicotina, anfetamina, cocaína);
· Perturbadores da Actividade do Sistema Nervoso Central (maconha, cacto, cogumelo, LSD).

Alcoolismo


O alcoolismo é uma doença física. O alcoólico sofre de uma péssima alimentação e má nutrição; deficiência em vitaminas, dispepsia, hepatopatia, desidratação. Apresenta além disso sintomas nervosos diversos; tremuras, cefaleias, alteração da memória.
O alcoolismo é também uma doença psíquica: o alcoólico tem necessidade de ingerir álcool para aceitar a realidade, tem tendência a fugir às responsabilidades, sofre de angústia, é agressivo, resiste mal às frustrações e às tensões e, nele, o nível de consciência, enquanto racionalidade, tende a baixar, levando-o a uma conduta impulsiva.
Para além disto, o alcoolismo pode ser visto como uma doença social: o alcoólico apresenta níveis elevados de negligência perante a família, há divórcios numerosos e frequentes perdas de emprego entre os alcoólicos, há a perda dos velhos amigos que continuam sóbrios, há os problemas financeiros e o recurso às organizações sociais e ainda a agressividade perante a sociedade.
O alcoolismo pode também ser visto como uma doença moral: o alcoólico esquece normalmente a sua vida espiritual, não respeita as suas obrigações perante a família, os colegas de trabalho, a sociedade e, normalmente, perde todo o senso moral.
Consequências: o consumo excessivo e prolongado do álcool provoca os seguintes efeitos sobre o organismo humano:
· Acção sobre o tubo digestivo e o estômago: as mucosas do tubo digestivo e estômago ficam em contacto directo com o álcool, o que pode provocar inflamações e úlceras. O álcool ingerido em concentrações elevadas pode inibir a transformação dos alimentos.
· Acção sobre o fígado: o fígado fica igualmente em contacto directo com o álcool, visto que é neste órgão que começa a sua transformação. A acção nociva do álcool produz a "cirrose alcoólica" no decurso da qual as células do fígado vão desaparecendo progressivamente.
· Acção sobre o sistema nervoso central: o álcool perturba o funcionamento normal do sistema nervoso central. A sua acção é a de um anestésico. Esta depressão gradual das actividades nervosas, devida ao álcool, atinge os centros nervosos pela ordem inversa da sua evolução, quer dizer, começando pelos centros que comandam a capacidade de ajuizar, a atenção, a autocrítica, o autodomínio, a locomoção, para terminar naqueles de que depende a vida orgânica.
· Tratamento: Se o alcoólico é um doente, é necessário persuadi-lo de que a sua doença se pode tratar. Deve evitar-se, portanto, considerá-lo como um viciado ou um fraco de espírito. As repreensões, o ridículo, os sermões, as atitudes protectoras, só fazem com que ele continue a beber. Há, sobretudo, que ajudá-lo a eliminar ou minimizar as causas que o levaram a encontrar refúgio na bebida. Existem várias instituições onde as pessoas com problemas de alcoolismo podem encontrar ajuda médica ou psicológica específica, e outras em que podem desfrutar de convívios ou reuniões de entre-ajuda (Alcoólicos Anónimos).

Tabagismo


Tabagismo significa abuso de tabaco. É o vício de fumar regularmente um número considerável de cigarros, cigarrilhas, charutos ou tabaco de cachimbo. Fumar remete para o cancro do pulmão e outros, bronquite e enfisema pulmonar, úlcera gastro-duodenal, doenças cardio-vasculares e acidentes vasculares cerebrais. As mulheres fumadoras grávidas podem prejudicar o desenvolvimento e a viabilidade do feto. Os fumadores também prejudicam a saúde dos não fumadores junto de quem vivem, que acabam por ser fumadores contra a vontade ("fumadores passivos").
Consequências:
· No aparelho respiratório, 90% dos cancros são devidos ao tabaco;
· No aparelho circulatório, a angina de peito, o enfarte do miocárdio, a hipertensão arterial e o acidente vascular cerebral são algumas das doenças mais frequentes;
· Na área oto-rino-larinológica, 65% dos cancros da boca são devidos ao tabaco bem como a diminuição do olfacto e tendência para a rouquidão;
· No aparelho urinário, o tabaco pode provocar cancro da bexiga;
· Ao nível sanguíneo, provoca alterações da coagulação;
· Na mulher, o tabaco aumenta o risco de cancro do colo do útero e em combinação com a toma da pílula contraceptiva, aumenta o risco de trombose venosa;
· No recém-nascido, o tabagismo da mãe aumenta o risco de malformações, parto prematuro, baixo peso ao nascer e síndrome da morte súbita;
· Calcula-se que cerca de dois milhões e meio de pessoas morrem anualmente em todo o mundo, devido ao tabaco. Por isso, a Organização Mundial de Saúde propõe a luta, por todos os meios, contra esta autêntica epidemia dos tempos modernos.
Tratamento:
· Em Portugal existeo “Projecto Vida”, o Conselho de Prevenção do Tabagismo, A Coligação das ONG Portuguesas de Prevenção do Tabagismo, O Gabinete de Dependência Química
· As doenças causadas pelo consumo exagerado e prolongado do tabaco - incluindo a intoxicação tabágica - são tratadas nos centros de saúde, hospitais e clínicas (públicos e privados) de todo o país. O melhor mesmo é tentares a desabituação, para deixares definitivamente de fumar!

Drogas


Uma droga psicoactiva é qualquer substância que altera o teu humor (por exemplo, que te torna feliz, triste, nervoso, eufórico, deprimido, excitado, etc.), altera a tua percepção do ambiente externo (por exemplo, o tempo, a localização, as condições, etc), ou altera a tua percepção do ambiente interno (por exemplo, sonhos, imagens, alucinações, etc.).
Depressores: Os depressores reduzem a estimulação fisiológica, reduzem a tensão psicológica e podem levar-te a relaxar. Há três tipos de depressores: o álcool, os barbitúricos e as benzodiazepinas.
Narcóticos: o termo "narcótico" é frequentemente usado para referir drogas ilegais, mas tecnicamente refere-se a uma classe específica de drogas derivadas do ópio. Os narcóticos exercem o efeito de entorpecer os sentidos e produzir um estado semelhante ao sono. No entanto, o consumo de doses altas pode causar um grau prolongado de relaxamento que pode levar à paragem respiratória e, como consequência, à morte.
Os narcóticos incluem o ópio, a morfina e a heroína.
Estimulantes: Os estimulantes provocam estados de euforia que são geralmente referidos como "highs". Provocam estes efeitos porque aumentam os níveis de determinados neurotransmissores e, desta forma, aumentam o nível de actividade neurológica do sistema límbico, um sistema que é responsável pelo prazer. Os dois estimulantes mais poderosos são as anfetaminas e a cocaína, mas também poderiam incluir a cafeína e a nicotina.
Alucinógeneos: O efeito dos alucinógenos é distorcer experiências sensoriais, ou seja, distorcer a realidade. Enquanto a pessoa está sob o efeito de alucinógenos, o que vê ou ouve é alterado, mudado ou deformado de modo a parecer diferente. Tais distorções podem ser chamadas de alucinações (experiências de percepção que não têm uma base na realidade), daí o termo alucinógeno.Alguns alucinógeneos são o cannabis (porque altera experiências sensoriais e cognitivas), o LSD e a mescalina.

Outras dependências

Na literatura médica, não há menções a outro tipo de dependência: somente a drogas. No entanto, os mesmos mecanismo cerebrais que as drogas alteram também podem ser alterados por comportamentos ou outros estímulos ambientais (pessoas, situações e objetos).
· O jogo é a dependência que mais se assemelha à de drogas. A necessidade de apostar é tão intensa quanto a de drogas. A tolerância ocorre na forma da ocorrência do aumento das apostas. Na ausência da situação de jogo, metade dos apostadores compulsivos exibe sinais de abstinência semelhantes aos de uma droga leve: estômago enjoado, transtorno do sono, sudorese, irritabilidade e necessidade de jogar. Jogadores patológicos que assistem a vídeos de pessoas a jogar ou a falar sobre jogos exibem alterações na actividade das mesmas regiões cerebrais que viciados em cocaína que assistem a vídeos que aumentam a sua necessidade de droga. (Estudos com ressonância magnética funcional)
· Comprar (em geral, mulheres): crises de compras (grandes dívidas e casa entulhada) são frequentemente precipitadas por sentimentos de depressão e ansiedade. A cleptomania pode ser uma forma de dependência em relação às compras: a naltrexona melhora sintomas de 9 entre 10 pacientes, após 11 semanas de tratamento.
· Internet: Pode ser uma nova adicção mas ainda não está claro se não é uma forma mais antiga de adicção (comprar, jogar, sexo – pornografia etc). Há pessoas que negligenciam o resto das suas vidas à frente de um monitor.
· Exercício físico (adicção positiva?): correr aumenta os níveis de endorfina (que por sua vez favorecem sinapses dopaminérgicas). Ratos seleccionados para serem sujeitos à adicção gastam mais tempo a correr em rodas de actividade. Testes bioquímicos indicam que tanto o impulso para correr como para consumir cocaína são governados por adaptações bioquímicas similares. Em ratos sujeitos à adicção, correr aumenta a preferência por álcool. É provável que a prática compulsiva de outros desportos também se incluam nesta categoria.
· Comer: consumidores compulsivos apresentam menor disponibilidade de receptores dopaminérgicos, anomalia presente nos toxicodependentes. A deficiência de dopamina em indivíduos obesos pode perpetuar o comer patológico como meio de compensar a activação diminuída desses circuitos.
· Fazer sexo: há poucos estudos sobre sexo como adicção. Alguns adictos a sexo exibem comportamentos característicos da adicção: são obsessivos sobre sexo, nunca estão satisfeitos, sentem perda do controlo e as suas vidas são muito prejudicadas por isso. Estudos com imagens mostram que os adictos a sexo se assemelham aos adictos a cocaína e talvez compartilhem com eles um defeito no ”circuito das inibições”.
· Educação: quando um estudante estuda matérias a mais do que aquilo que é estipulado pelo programa escolar, pelo facto de ter sido reprovado nessa disciplina, ou porque o aluno sofreu uma transferência e a instituição antiga não deu aulas sobre essas matérias.
Em geral, o estudante acaba por ter de ficar na escola com outra turma além daquela em que está matriculado, para completar a carga horária exigida.
Normalmente, dependências não são aceites durante o ensino obrigatório.Farmacodependência: Estado psíquico e às vezes físico causado pela acção recíproca entre um organismo vivo e um fármaco, que se caracteriza por modificações do comportamento e por outras reacções que compreendem sempre um impulso irreprimível de consumir o fármaco de forma contínua ou periódica, a fim de experimentar os seus efeitos psíquicos e, às vezes, evitar o mal-estar produzido pela privação.

Revista dependências

Há sensivelmente cinco anos, fruto de particular atenção e interesse de uma equipa de profissionais de comunicação pelas matérias de índole social, nascia em Portugal a primeira publicação periódica de conteúdos na área das toxicodependências.
Na altura, este pioneiro projecto foi baptizado com o título “Toxicodependência” e logo despertou a curiosidade dos jornalistas envolvidos, muito provavelmente à data a mais eficaz ferramenta ao serviço de quem pretendia contribuir com honestidade, seriedade e isenção para a minimização de um fenómeno que a todos afecta.
As páginas foram passando, o nível de conhecimentos estimulava-os a prosseguir a aventura com contornos cada vez mais especializados e, volvidos dois anos, chegaram à conclusão que devíamos ceder à tentação de tentar chegar cada vez mais longe. Foi então que, por uma questão de coerência técnico-científica, rebaptizaram o título, passando a designá-lo de “Dependências”, obedecendo então a uma realidade social que os impunha a abarcarem outros tipos de dependências entretanto constatadas.