quarta-feira, 27 de fevereiro de 2008

A ESCOLA COMO CONTEXTO DE DESENVOLVIMENTO


Num século em que o número de alfabetizados do planeta é bastante superior ao dos analfabetos, é importante reflectir sobre o papel da escola na actualidade.
No entanto, é importante saber que a escola e a família constituem dois contextos de desenvolvimento fundamentais para a trajectória de vida das pessoas.
Vamos falar na forma como estes dois contextos se relacionam e influenciam o desenvolvimento humano e os processos evolutivos.
Iremos abordar as funções da escola, em várias faixas etárias.

A escola e a família

A escola e a família compartilham funções sociais, políticas e educacionais, na medida em que contribuem e influenciam a formação do cidadão. Ambas são responsáveis pela transmissão e construção do conhecimento culturalmente organizado, modificando as formas de funcionamento psicológico, de acordo com as expectativas de cada ambiente. Portanto, a família e a escola emergem como duas instituições fundamentais para desencadear os processos evolutivos das pessoas, actuando como propulsoras ou inibidoras do seu crescimento físico, intelectual, emocional e social. Na escola, os conteúdos curriculares asseguram a instrução e apreensão de conhecimentos, havendo uma preocupação central com o processo ensino-aprendizagem. Já na família, os objectivos, conteúdos e métodos diferenciam-se, desenvolvendo o processo de socialização, a protecção, as condições básicas de sobrevivência e o desenvolvimento dos seus membros no plano social, cognitivo e afectivo.

A relação família-escola

Para compreender os processos de desenvolvimento e os seus impactos num indivíduo, é preciso focalizar tanto o contexto familiar quanto o escolar e suas inter-relações.
Um exemplo conhecido é a retenção escolar. Sabe-se que a estrutura familiar tem um forte impacto na permanência do aluno na escola, podendo evitar ou intensificar a retenção escolar. De entre os aspectos que contribuem para isto estão as características individuais, a ausência de hábitos de estudo, as faltas às aulas e os problemas de comportamento. Em todos estes factores, a família exerce uma poderosa influência. Embora um sistema escolar transformador possa reverter esses aspectos negativos, é necessário fazer com que a escola conte com a colaboração de outros contextos que influenciam significativamente a aprendizagem formal do aluno, incluindo a família.
Algumas pesquisas têm demonstrado que os pais estão constantemente preocupados e envolvidos com as actividades escolares dos filhos e que dirigem a sua atenção à avaliação do aproveitamento escolar, sendo isto independente do nível socioeconómico ou escolaridade.
Os laços afectivos, estruturados e consolidados, tanto na escola como na família permitem que os indivíduos lidem com conflitos, aproximações e situações oriundas destes vínculos, aprendendo a resolver os problemas de maneira conjunta ou separada.
Na família, há o reconhecimento do papel dos pais, irmãos e outras pessoas que convivem com a criança ou adolescente e a sua contribuição para o desenvolvimento geral e académico. Na escola, destacam-se os professores e os pares, uma vez que estes se envolvem quotidianamente em actividades programadas e realizam intervenções importantes que afectam o processo de ensino e aprendizagem.
Além disso, o conhecimento dos valores e práticas educativas que são adoptadas em casa, e que se reflectem no âmbito escolar e vice-versa, são imprescindíveis para manter a continuidade das acções entre a família e a escola.
Então, as escolas devem investir no fortalecimento das associações de pais, no conselho escolar, entre outros espaços de participação, de modo a propiciar a articulação da família com a comunidade, estabelecendo relações mais próximas. A adopção de estratégias que permitam aos pais acompanharem as actividades curriculares da escola, beneficiam tanto a escola quanto a família.

A escola como contexto de desenvolvimento humano

A escola constitui um contexto diversificado de desenvolvimento e aprendizagem, isto é, um local que reúne diversidade de conhecimentos, actividades, regras e valores e que é permeado por conflitos, problemas e diferenças. É nesse espaço físico, psicológico, social e cultural que os indivíduos processam o seu desenvolvimento global, mediante as actividades programadas e realizadas na sala de aula e fora dela. O sistema escolar, além de envolver uma gama de pessoas, com características diferenciadas, inclui um número significativo de interacções contínuas e complexas, em função dos estados de desenvolvimento do aluno. Trata-se de um ambiente multicultural que abrange também a construção de laços afectivos e preparação para a inserção na sociedade.

A escola e a sua função social

A escola funciona como uma instituição fundamental para o indivíduo e para a sua constituição, assim como para a evolução da sociedade e da humanidade. Como um microssistema, ela não apenas reflecte as transformações actuais como também tem que lidar com as diferentes demandas do mundo globalizado. Uma das suas tarefas mais importantes é preparar tantos alunos, como professores e pais para viverem e superarem as dificuldades num mundo de mudanças rápidas e de conflitos interpessoais, contribuindo para o processo de desenvolvimento do indivíduo.
À escola compete propiciar recursos psicológicos para a evolução intelectual, social e cultural do homem. Ao desenvolver, por meio de actividades sistemáticas, a articulação dos conhecimentos culturalmente organizados, ela possibilita a apropriação da experiência acumulada e as formas de pensar, agir e interagir no mundo, oriundas dessas experiências. Ela proporciona o emprego da linguagem simbólica, a apreensão dos conteúdos académicos e compreensão dos mecanismos envolvidos no funcionamento mental, fundamentais ao processo de aprendizagem.
A escola é uma instituição social com objectivos e metas determinadas, que emprega e reelabora os conhecimentos socialmente produzidos, com o intuito de promover a aprendizagem e efectivar o desenvolvimento das funções psicológicas superiores: memória selectiva, criatividade, associação de ideias, organização e sequência de conhecimentos, etc... Ela é um espaço em que o indivíduo tende a estabelecer uma interacção com o seu ambiente social.
A função da escola no século XXI tem o objectivo importantíssimo de estimular o potencial do aluno, tendo em conta as diferenças socioculturais em prol da aquisição do seu conhecimento e desenvolvimento global. Sob este prisma, há três objectivos que são comuns e devem ser conseguidos pelas escolas modernas: estimular o desenvolvimento em níveis físico, afectivo, moral, cognitivo, de personalidade; desenvolver a consciência cidadã e a capacidade de intervenção no âmbito social; promover uma aprendizagem de forma contínua, propiciando, ao aluno, formas diversificadas de aprender e condições de inserção no mercado de trabalho.

O papel das escolas nas diferentes faixas etárias


Somos influenciados de diferentes maneiras, de acordo com a classe de ensino em que estamos inseridos.
Por exemplo, desenvolvemos diferentes capacidades, de diferentes modos, quando estamos no jardim-de-infância do que quando já somos alunos do ensino secundário.
No jardim-de-infância, a educação deverá permitir às crianças experiências que estimulem o seu completo desenvolvimento pessoal, assim como contribuir de forma eficaz para compensar todo o tipo de desigualdades sem que isso signifique deixar de reconhecer as diferenças físicas e psicológicas das crianças, favorecendo a integração destas no processo educativo. É nesta idade que as crianças aprendem a fazer uso da linguagem, descobrem as características físicas e sociais do meio em que vivem, constroem uma imagem positiva e equilibrada de si própria e adquire hábitos de comportamento que lhe permitem uma autonomia pessoal elementar. Os métodos a utilizar baseiam-se na experiência, nas actividades lúdicas e num ambiente de afecto e confiança.
No ensino primário, é muito importante o contacto com o primeiro professor. Nesta idade, a criança vai com um pouco de receio e a primeira impressão do docente torna-se muito importante e vai determinar a sua predisposição em relação à escola durante os tempos que se seguem. Por exemplo, se a criança entra em contacto com um professor casmurro, desinteressado e ultra-autoritário, certamente que a sua vontade em voltar à escola no dia seguinte não será muita. Se, pelo contrário, a criança for presenteada com as boas-vindas, será muito diferente. É por esta altura que se fazem os primeiros amigos.
O básico torna-se muito importante pois os jovens passam a ter não uma, mas várias figuras de autoridade. Nota-se uma grande diferença a nível intelectual, pois os alunos passam a ter muitas disciplinas. É por esta altura que as crianças começam a ter de ganhar alguma responsabilidade. É um período em que há bastantes mudanças e a escola é uma instituição bastante importante no que respeita à informação dada aos jovens.
No secundário, a escola tem uma grande influência, pois o aluno está na idade da transição (menor de idade para maior de idade). Nesta altura, os jovens são bastante influenciáveis, o que faz com que a escola tenha que desenvolver meios que permitam que estes sejam influenciados da melhor forma. Normalmente, os grupos em que os jovens estão inseridos são um dos principais factores de desenvolvimento: se um jovem estiver inserido num grupo com bons alunos, futuros definidos, esse jovem tem bastantes probabilidades de querer ir para uma universidade, estudar mais, tirar um curso. Se o jovem estiver num grupo fraco, onde todos querem é beber e fumar, o jovem tem mais probabilidades de ter comportamentos de risco, o que pode afectar os resultados escolares. Esta altura é altura de decidir o que fazer da vida, os jovens tornam-se mais maduros, e já começam a tratar dos seus assuntos. A escola também influencia o desenvolvimento a nível intelectual, no secundário começam a ter disciplinas novas e que ajudam a desenvolver a intelectualidade, temos o caso da filosofia, psicologia, biologia, etc… Aqui, há muitos alunos que são marcados por determinados professores, que têm especial interesse pelos mesmos.

Para saber mais

Consulte: “Contextos de desenvolvimento e teorias psicológicas”, de Carlos Marques Simões e Helena Ralha Simões

Vídeos

http://youtube.com/watch?v=VOLpz-ZoLGw (Bang bang you’re dead)
http://youtube.com/watch?v=XCwy6lW5Ixc (School of rock)
http://youtube.com/watch?v=m-_9zukfICc (Van Wilder)
http://youtube.com/watch?v=KyHBHB6P_Gw (Deftones – Back to school)
http://youtube.com/watch?v=u4-aUiddpUo (Offspring - the kids aren't alright)

segunda-feira, 14 de janeiro de 2008

O novo papel do Pai

Temos observado uma série de mudanças na nossa sociedade. Uma das mais marcantes é a forma como os homens agem na posição de pais. O que há algumas décadas seria estranho e talvez até considerado ridículo, é cada vez mais aceite. Hoje em dia, ninguém questiona a masculinidade de um homem que troca fraldas, dá de mamar e leva o bebé a passear. Pelo contrário, essas atitudes são encorajadas pelas mulheres em geral, pelos media e até desejadas pelos homens.

O actual perfil da figura paterna, desenhado nas últimas décadas, não lembra em nada aquele modelo autoritário e ausente do passado. Ainda bem!
Até aos anos 60, a sociedade era patriarcal, ou seja, o homem ocupava aposição de “provedor do lar”: era ele quem trabalhava para sustentar a família e quem tomava todas as decisões importantes. Já a mulher era encarregue dos cuidados com a casa e com os seus filhos, sendo esta considerada uma função inferior. Em geral, os homens não demonstravam os seus sentimentos em relação aos filhos, pois isso era sinal de fragilidade. Eles acabavam por se tornar muito ausentes, e a sua participação na educação dos filhos limitava-se apenas a dar ordens e a impor disciplina.
Hoje em dia, felizmente, essa realidade mudou. O homem percebeu que criar vínculos afectivos fortes com os seus filhos é extremamente positivo, não só para as crianças como para eles mesmos. Essa mudança deve-se, entre outros factores, à redefinição do papel do homem e da mulher em todos os sectores da sociedade, que teve início a partir da luta feminina por direitos iguais aos dos homens e da entrada da mulher no mercado de trabalho.
Os pais de hoje choram no dia do parto dos seus filhos, ajudam a mudar as fraldas, contam histórias, brincam, participam na escolha da escola e emocionam-se com cada pequena conquista das crianças. E fazem isso sem nenhum constrangimento, sem achar que estão a perder a sua masculinidade. É claro que muitos homens ainda mantêm alguma distância dos filhos, principalmente os que foram criados num ambiente machista, mas isso já não é regra geral, mas sim a excepção.
Participação e afecto fazem parte de uma educação saudável. Esta postura paterna terá um grande impacto nas gerações futuras e os futuros adultos poderão ter um prazer compartilhado na educação das crianças, desenvolvendo um respeito mútuo.

A importância do pai

Apesar de estar mais afectivo, o pai ainda é responsável por estabelecer os limites e atribuir a liberdade aos filhos. A mãe tem uma tendência natural para proteger demais os filhos, transmitindo-lhes valores como acolhimento e protecção. Já o pai estimula a independência dos filhos e corta o excesso de protecção da mãe. O seu papel é muito importante na construção da autonomia e da ousadia da criança. A diferença é que antes, a autoridade paterna era acompanhada do medo que as crianças sentiam frente a uma figura tão severa e distante. Hoje, esse processo ocorre de maneira mais saudável, já que os pais não se fazem entender apenas com gritos.
O que não pode acontecer é o pai “amolecer” demais e tornar-se permissivo. Quando isso acontece, as crianças acabam por tornar-se desobedientes, autoritárias e inseguras. Dar limites é, também, uma importante demonstração de amor, já que sem eles os filhos ficam perdidos.
A participação do pai é importante também em muitos outros aspectos. Ele serve como modelo de comportamento para os meninos e também permite que as meninas conheçam e compreendam o universo masculino. Práticos, objectivos e racionais, os homens também podem mostrar às crianças uma nova forma de encarar a vida, diferente do ponto de vista feminino.
Nem é preciso falar sobre o suporte emocional, que a maior proximidade afectiva do pai representa para os filhos. Se o amor da mãe já era muito bom, imagine-se isso em dobro! Um pai participativo e atencioso representa mais auto-estima, mais confiança, segurança e equilíbrio. Ele também serve como exemplo, contribuindo para que as próximas gerações superem definitivamente os preconceitos existentes na tradicional divisão do papel feminino e masculino na sociedade.
Não se deve pensar, entretanto, que uma criança que não pode conviver com o pai, por qualquer que seja o motivo, será necessariamente infeliz ou problemática. A figura paterna pode ser representada por um tio, um avô ou outro adulto do sexo masculino que participe activamente na vida da criança. O importante é que exista esse referencial masculino.

Pai e mãe: rivalidade?

Como a participação masculina na criação dos filhos é um fenómeno ainda muito recente, é normal que surjam dificuldades e até mesmo conflitos.
Algumas mães, mesmo inconscientemente, não querem “perder” para o pai o amor e admiração do filho. Outras, não acreditam que um homem possa assumir essa responsabilidade e desqualificam, a toda a hora, qualquer tipo de ajuda que o pai queira dar quando eles se colocam à sua disposição. “O facto é que, neste tipo de casais, existe uma distribuição de tarefas e não um compartilhamento de actividades.
As mulheres não se podem esquecer que o homem tem um modo diferente de educar os filhos e que eles ainda estão muito confusos em relação ao seu papel.
Um dos maiores erros dos pais é não acreditarem que podem interferir positivamente na educação dos filhos. No entanto, eles possuem uma enorme qualidade: assumem que realmente não têm as respostas, mas mostram-se dispostos a colaborar para que a criança se desenvolva feliz.

O pãe (Pai e Mãe)


Existe um novo nome para denominar este pai, que junta numa só pessoa os papéis de pai e de mãe. Imaginemos uma senhora a dizer às filhas que ia precisar de ficar no consultório até mais tarde e que elas iriam ficar com o pai, quando ele se autonomeou: “Não sou só pai. Eu sou pãe. Mistura de pai com mãe”. Era a mistura entre a queixa pela ausência da mulher e orgulho por poder ocupar as duas posições. Na brincadeira, um termo foi criado para nomear aquilo que é vivido diariamente por muitas famílias. Afinal, num período em que a mulher é cada vez mais requisitada profissionalmente, nada mais justo do que partilhar tarefas domésticas e o cuidado com os filhos.

O novo pai e os novos filhos

No entanto, como é que isso é visto e sentido pelas crianças? Até que ponto essa aparente fusão de papéis é saudável ou, por outro lado, prejudicial ao desenvolvimento emocional dos filhos? Primeiro, é preciso diferenciar alguns aspectos. É importante saber que uma coisa é ser a mãe, outra, muito diferente, é desempenhar o papel ou a função materna, como se diz em psicanálise.

Função materna: acolher

A função materna é desempenhada pela pessoa que cuida, amamenta (no peito ou na mamadeira), olha nos olhos da criança, ouve o que ela diz, está atenta aos seus sinais (orgânicos e emocionais) e desenvolve uma série de pequenas actividades que são de grande importância para a criança (cantar, contar histórias, dar um beijinho no do dói, passar o medicamento e soprar...).Todas essas atitudes permitem à criança perceber-se como um ser amado, desejado e importante: “Alguém gosta de mim!”. Essencial para o seu desenvolvimento. Esse papel foi (e ainda é) tradicionalmente desempenhado pela mãe, embora qualquer pessoa possa exercê-lo – desde que realmente dê a atenção necessária à criança!
Não há dúvidas de que, embora desgastante, a função materna é extremamente gratificante, tanto para homens quanto para mulheres. Acompanhar o desenvolvimento de uma criança é, para a maioria das pessoas, algo que dá muito prazer, tanto pelo vínculo afectivo como pelas ideias de poder (o poder de criar, de comandar outra vida) e fantasias associadas (o meu filho é... ou será..., eu quero que o meu filho seja...), em geral projecções dos próprios desejos da mãe ou do pai.

Função paterna: limites

Tradicionalmente, o pai é a figura que interdita algo, ou seja, que impede o acesso a alguma coisa. A função paterna, portanto, relaciona-se com as regras e limites. É o pai quem determina a “lei” dentro de casa: “Não se faz isso!”. É importante observar que não há necessidade de expressar essa lei por palavras: às vezes basta o olhar. O pai nem precisa de estar presente, pois a figura do pai também é formada a partir do que a mãe fala sobre esse pai: ”Vais ver quando o pai chegar!...” .Além disso, o pai também é aquele que mostra à criança que ela não é a única na vida da mãe, ou seja, permite o amadurecimento da criança às custas de se ver separado da sua mãe. Mesmo sendo doloroso, isso é extremamente saudável para a criança que, a partir daí, irá preparar-se para outras frustrações e separações. Assim pode aprender a defender-se. Da mesma forma que a função materna, a função paterna pode ser exercida por outras pessoas, independente do sexo ou do grau de parentesco.Qualquer pessoa que dite regras ou que se oponha entre a mãe e a criança está a cumprir esse papel. Quando a função paterna falha, a criança tende a ficar extremamente ligada à mãe (ou à pessoa que exerce a função materna), podendo apresentar, no futuro, dificuldade em estabelecer outros vínculos afectivos.

Os novos casais: confusão ou novas possibilidades?

Na actualidade, uma boa parte dos casais troca e mistura a função materna e paterna, ou seja, cada um exerce um pouco de cada função. A nossa questão é: até que ponto isso é saudável para a criança? Será que essa confusão de papéis pode, de alguma forma, gerar também uma confusão no desenvolvimento psíquico das crianças? Embora seja muito difícil prever a partir da teoria, a observação de crianças e adolescentes tem mostrado que o desenvolvimento psíquico é saudável desde que ambas as funções sejam exercidas de forma coerente, não importa por quem.Se ambos ditam regras, que estejam de acordo a respeito delas. Por exemplo: não adianta a mãe dizer que a criança deve ir para a cama às nove da noite se o pai permite que assistam TV até as dez e meia. Neste caso, ambos estão a ditar regras conflituantes. O problema não é que os dois exerçam a função paterna, mas o conflito gerado se não houver consenso. A tendência é que as crianças fiquem confusas ou não valorizem as regras.
Obviamente, o casal não deve abster-se de exercer a função paterna. Caso pai e mãe exerçam apenas a função materna -- com muito amor, carinho, todos os cuidados e atenção, porém sem regras – estarão a criar filhos despreparados para a realidade. É importante saber que a realidade não é um mundo só de prazer, amor, carinho e satisfação. Também inclui perda, separação e frustração. Famílias muito rígidas podem apresentar o comportamento oposto: regras em excesso e muito rigor - sem amor, afecto e aceitação - levam a criança a acreditar que o mundo é um lugar ameaçador, cheio de perigos, onde a satisfação não pode ser encontrada.
Quanto à inversão de papéis ou mesmo misturar os papéis de pai e mãe, existindo coerência haverá um ambiente emocional saudável para o desenvolvimento da criança.

Tipos de pais

1- Superprotector. É o que faz tudo por todos da casa e evita qualquer tipo de frustração ou conflito do (a) filho (a). No fundo, quer viver a vida dos filhos. Age compulsivamente, isto é, sem saber que superprotegendo está a impedir os filhos de crescerem como pessoas. O filho (ou a filha) na infância e na adolescência terá como traços marcantes a insegurança e a falta de iniciativa, e se não se esforçar bastante não chegará ao estado adulto. Sem autonomia, mesmo casado não dará um passo sem consultar o paizão.
2- Autoritário. Fechado ao diálogo. Imaturo, não é capaz de acompanhar as mudanças da realidade. Não sabe colocar os seus problemas e perde a calma por achar que os familiares não o compreendem. Acha que o seu ponto de vista sempre é o certo e racionaliza: "Sou rude e mandão para seu bem, filho". O filho por certo será sonhador, influenciável, bastante sensível e com tendência ao isolamento. Ou o oposto: fechado, radical, dominador e agressivo fora de casa. Mas em casa vive calado e ansioso, pois sempre espera reacções agressivas do pai. O adolescente ou imitará o pai na vida social ou se engajará num grupo de jovens desobedientes, no qual será um obediente carneiro.
3- Agressivo. É o pai em contínuo estado de agressão. Em qualquer situação que não lhe agrada, agride com palavras. Parte para a violência. O seu filho não respeita os colegas de turma. Possessivo, não dá, só leva dos colegas. Repete o pai, em geral um ignorante.
4- Submisso. Não tem voz activa no lar. É dominado sobretudo pela mulher. Não toma iniciativa. Espera tudo da mulher e dos filhos. Não é modelo. Geralmente um filho (ou uma filha) assume o que ele não assumiu, que é o papel masculino, e daí decorrem conflitos com a mãe. Enquanto criança, o filho do submisso é uma pessoa indefinida e sempre segue alguém mais forte para se sentir forte. Opõe-se à professora porque esta lembra a mãe (autoridade). Já a filha ficará à procura de um homem forte, decidido e independente, no qual ela encontra seu belo lado masculino (forte, dominador, activo, etc.).
5- Ausente. Indiferente e impotente, submisso. Porém, é egoísta. Ao esconder-se ou fugir nas horas de decisão, aparece como o sofredor que pede carinho. O filho (ou a filha) terá problemas na infância na definição de sua sexualidade entre 3 e 6 anos e mais tarde dos 12 aos 16. Irá procurar um amigo ou pai de amigo para se identificar com ele. A menina com um pai ausente ou submisso pode desenvolver uma personalidade masculina para enfrentar a mãe a partir de 3 anos de idade.
6- Adulto. Honesto, digno, sincero, amigo, amoroso e trabalhador. É o pai ideal, que está de bem consigo mesmo e com os outros. Respeita os sentimentos e opiniões dos filhos. Mostra como exemplo o lado certo da vida. Aberto ao diálogo, sabe aconselhar sem impor. Dá apoio e sabe ser severo na hora certa.

Papel do pai na gravidez

Os novos estudos têm realçado o papel do pai na gravidez. Durante a gestação, a relação com um homem carinhoso e sensível proporciona à mulher e ao filho um sistema constante de apoio emocional. Não há nada que afecte mais profundamente uma mulher grávida e o seu filho intra-uterino, como as preocupações com o companheiro. Portanto, é muito perigoso para uma criança, tanto emocional como fisicamente, um pai que maltrate ou abandone uma mulher grávida.
Por evidentes motivos fisiológicos, o homem está em desvantagem na equação pré-natal, mas actos simples podem superar a diferença, como por exemplo falar com o filho intra-uterino, que tem a capacidade de ouvir desde a 6ª semana de gestação. E o recém-nascido é capaz de reconhecer a voz do pai.
Um grupo de pesquisadores colombianos encontrou altas taxas de transtornos psiquiátricos – especialmente esquizofrenia – entre crianças cujo pai morrera, enquanto estavam no útero.
O amor do pai é tão complexo e importante como o da mãe. Se se dá oportunidade, o homem pode ser tão “maternal” como a mulher: protector, estimulador, cuidadoso e sensível às necessidades de seus filhos.
Quanto mais precoce for o contacto do pai como filho recém-nascido, mais interessado e vinculado se torna. Um dos maiores mistérios é a explicação do vínculo pai-filho. No princípio, estão ausentes os evidentes vínculos fisiológicos e psicológicos, que unem o feto com a mãe. Os pais não trazem o filho no ventre durante 9 meses, jamais amamentam, só ocasionalmente dão a mamadeira e raras vezes passam com ele tanto tempo como as mães. Mas é indiscutível que o vínculo que se forma entre pai-filho pode ser tão forte e vital como o vínculo mãe-filho.
A função social do pai é socializar o filho, separá-lo da mãe. Como guia companheiro e intérprete do novo mundo da criança, o pai não só ajuda a estabelecer a sua percepção deste mundo, como também o êxito do seu funcionamento nele. Se a criança não tem um pai presente nem um pai substituto, terá vazios afectivos ao longo de toda a sua vida.
Pesquisas nos Estados Unidos têm mostrado que crianças de pais divorciados podem apresentar: baixo rendimento escolar, agressividade com a família e com os colegas, uso de drogas, depressão e angústia.

Parábola do Filho Pródigo

“Um homem tinha dois filhos. O mais jovem disse ao pai: ‘Pai, dá-me a parte da herança que me cabe.’ E o pai dividiu os bens entre eles. Poucos dias depois, juntando todos os seus haveres, o filho mais jovem partiu para uma região longínqua a ali gastou a sua herança numa vida devassa. E gastou tudo. Foi parar àquela região uma grande fome e ele começou a passar privações. Foi, então, empregar-se com um dos homens daquela região, que o mandou para os seus campos cuidar dos porcos. Ele queria matar a fome com as bolotas (cascas) que os porcos comiam, mas ninguém lhas dava. E ,caindo em si, disse: ‘Quantos servos de meu pai têm pão com fartura, e eu aqui, morrendo de fome! Vou-me embora, procurar o meu pai e dizer-lhe: Pai, pequei contra o céu e contra ti; já não sou mais digno de ser chamado teu filho. Trata-me como um dos teus empregados.’ Partiu, então, e foi ao encontro de seu pai. Ele estava ainda longe, quando o seu pai o viu, encheu-se de compaixão, correu e lançou-se-lhe ao pescoço, cobrindo-o de beijos. O filho, então. Disse-lhe: ‘Pai, pequei contra o céu e contra ti; já não sou digno de ser chamado teu filho.’ Mas o pai disse aos seus servos; ‘Ide depressa, trazei a melhor túnica e revesti-o com ela, pode-lhe um anel no dedo e sandálias nos pés. Trazei o novilho cevado e matai-o; comamos e festejamos, pois este meu filho estava morto e tornou a viver; estava perdido e foi reencontrado!’ E começaram a festa. Seu filho mais velho estava no campo. Quando voltava, já perto da casa ouviu músicas e danças. Chamando um servo, perguntou-lhe o que estava acontecendo. Este disse-lhe: ‘É o teu irmão que voltou e o teu pai matou o novilho cevado, porque o recuperou com saúde.’ Então ele ficou com muita raiva e não queria entrar. Seu pai saiu para suplicar-lhe. Ele porém, respondeu a seu pai: ‘Há tantos anos eu te sirvo, e jamais transgredi um só dos teus mandamentos, e nunca me deste um cabrito para festejar com meus amigos. Contudo, veio esse teu filho, que devorou os teus bens com prostitutas, e para ele matas o novilho cevado!’ Mas o pai disse-lhe: ‘Filho, tu estás sempre comigo, e tudo o que é meu é teu. Mas era preciso que festejássemos e nos alegrássemos, pois este teu irmão estava morto e tornou a viver, ele estava perdido e foi reencontrado.” JESUS, em Lucas, 15:11 a 32

Complexo de Édipo (papel do pai no mito grego Rei Édipo)

O papel do pai varia segundo as diferentes idades do filho. Até perto dos quatro meses a crianças centraliza-se quase exclusivamente na mãe. Após essa idade, a imagem paterna é ainda mais fundamental. Tanto Freud como os seus seguidores consideram que a relação dos pais com os filhos é o ponto central para poder compreender o desenvolvimento do adulto. O triângulo pai-mãe-filho denominou-se “complexo de Édipo”.O filho é então o reflexo dos seus pais, da sua presença e da sua forma de agir.
Os achados da psicanálise, sobre o significado da relação pai-filho e, actualmente sobre a importância que tem o pai desde a mais precoce infância, abriram um caminho que conduz a muitos transtornos psíquicos e físicos nos filhos e nos pais.
A partir dos factos analisados, o complexo de Édipo é de muito valor, uma vez que busca avaliar psicologicamente o papel paterno (e o materno) relacionando com as necessidades e atitudes da criança em diferentes etapas de sua vida. E baseado nos factos e nas características da obra “Rei Édipo”, de Sófocles, é possível perceber, não pelo ponto de vista de Freud, que o personagem Édipo, não sofreu do seu complexo, uma vez que todos os factos acontecidos foram fruto dos actos de seu pai.